terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Era uma vêz

Era uma vez uma criança que vivia com os seus pais no campo, vivia livremente, sem horários, sem restrições nem imposições, simplesmente vivia entre a natureza e os animais. Essa criança não tinha roupas de marca, não tinha uma casa bonita, nem tinha sequer uma casa de banho, vivia numa cabana, não tinha um quarto de dormir só seu, dormia num divã junto da cama dos pais. Não tinha brinquedos caros, nem uma criança para brincar, mas ela era muito feliz, tinha a natureza toda só para ela, o amor dos pais e muitos sonhos no seu coração.
Essa criança mudava constantemente de casa, o pai era pastor de ovelhas e a mãe, que por amor a ele deixou tudo o que tinha de confortável na sua vida, um apartamento na cidade, farmácias, hospitais, super-mercados para viver ao lado do amor da sua vida com a sua filha. E conforme havia pastagem para o gado, esta família tinha que ir viver onde houvesse comida para os animais.
Essa criança, apesar de viver livremente também frequentava o jardim de infância, onde tinha os seus amiguinhos e onde gostava muito de brincar. Quando entrou na escola primária era muito boa aluna, a melhor da turma, mesmo quando aos 8 anos teve que mudar 3 vezes de escola ela passou de ano.
A vida era sempre imprevisível, mudava de um dia para o outro e a criança sonhava apenas que gostava de ser adulta, mas igualmente livre e independente. Essa criança era muito sonhadora, sonhava sempre com o futuro, sonhava que gostava de ter uma casa com piscina.
Não havia televisão, mas havia céu estrelado todas as noites, havia um beijo de boa noite e serões de partilha com os pais e a irmã que aos 4 anos de vida dessa criança nasceu para lhe fazer companhia.
Essa criança tinha um fascínio por tudo o que não tinha de material, ela sonhava ter brinquedos, tais como uma barbie, e quando ia a uma casa que tinha casa de banho ficava maravilhada e sonhava ter uma casa de banho também.
Essa criança foi crescendo e com todas as mudanças de casa, acabou por viver em casas com electricidade e casas de banho. A inocência da infância foi-se diluindo e com o tempo e essa criança começou a deixar de dar importância às coisas básicas e essenciais da vida com as quais tinha crescido, e com as quais tinha sido muito feliz. Ela omitia sempre o seu passado, pois tinha vergonha de dizer aos seus amigos que tinha sido uma criança sem todos esses bens materiais que ela tanto apreciava, ela queria ser igual aos seus amigos que sempre tiveram tudo. Ela sonhava que viajaria muito, e dizia aos seus amigos que custumava passar férias no Tahiti com a sua familia, dizia que sabia falar inglês e os seus amigos ficavam horas a ouvir as suas histórias fantasiosas, até que um dia descobriram que era tudo fantasia e a criança voltou para o seu mundo real, onde ela não gostava de viver.
A sua alma sabia que havia algo mais, sempre algo superior, e ela acreditava muito, sempre acreditara, não de uma forma crente mas de uma forma inconsciente. Não sabia era que essa alma não queria bens materiais, queria algo mais.
E a menina seguiu os seus sonhos, sempre a pensar que seria adulta e teria tudo com que sempre havia sonhado em criança.
Um dia, já com 24 anos, olhou para a sua vida e viu que tinha conquistado tudo a que se tinha proposto, tinha um bom emprego, onde ganhava bem para a sua idade e experiência profissional, tinha uma casa linda e tinha um marido que a amava, e pensou, e agora? Tenho tudo o que sonhei, será que vou morrer? E ela começou a ter crises de pânico, a questionar as suas crenças, se morresse será que ia para o Inferno? E ela tinha muito medo do inferno, será que havia inferno? Recorreu a um psiquiatra para a ajudar a resolver as suas crises de ansiedade e de pânico, pois sozinha não conseguia controla-las.
Quando essas crises passaram, ela olhou novamente para ela e viu que ela tinha tudo o que sonhara em criança mas tinha perdido o essencial para ser realmente feliz, ela tinha perdido a sua liberdade, havia horários para tudo, uma rotina instalada que lhe fazia muito mau estar, haviam transportes públicos para apanhar, haviam contas para pagar, e ela pensava que não conseguia aguentar uma vida assim, sem liberdade porque todos os seus sonhos lhe tinham tirado a liberdade.
Ela continuou a questionar-se, tem que haver um motivo para aquele mau estar.
Curiosa como era, começou a querer saber mais sobre espiritualidade pois sabia que as suas crenças eram muito limitativas para si, tudo o que indicasse pecado, castigos fazia-a questionar se seria assim mesmo. Acabou por constatar que quando era criança, sonhava que iria ser mais feliz quando tivesse tudo o que quisera ter, mas afinal não era, então ela procurou, e encontrou as respostas a todas as suas questões. Ela finalmente olhou para as necessidades da sua alma e começou a sua busca espiritual. Hoje essa menina sonha em ser verdadeira para consigo mesma, seguir o seu coração sempre, e ser livre, ser fiel à sua criança interior.
Essa criança sou EU.

2 comentários:

  1. Eu tenho o privilégio de conhecer a mulher em que esta fantástica e pura criança se tornou e apenas posso dizer e confirmar que esta crianças veio para abrir as mentes e mostrar caminhos a quem anda perdido.
    Adoro-te amiga ;)

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  2. Uau lindinha coragem :)
    Que texto lindo, especial...que história, que caminho!

    E nos encontramos nós num dos locais deste novo caminho, e tenho o privilégio de começar a par contigo, o que desejo ser, uma grande caminhada.

    Beijinho muito grande

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